Duas horas da manhã, e ele ainda não havia sequer piscado os olhos. Sentado na cama, olhava suas fotos de criança, quando corria por ai, sem nada na cabeça, somente pensando no que iria brincar no outro dia.
Olhava aquelas fotos e percebia que em todas havia um olhar puro e um belo sorriso. Com o passar das fotos e do tempo, aquele olhar se transformava em triste e o sorriso não havia mais. Fechou aquela caixa, e percebeu que vê-las não o ajudou a melhorar, mas sim só o colocava em um mundo real, onde sua felicidade era algo utópico e distante no tempo.
Quatro horas e nada do sono chegar, e a jarra de café do seu lado poderia ser uma das causadoras da insônia. Começava a calcular, mal e porcamente o porque alguns sentem tanto as derrotas e outros passam por elas com menos dor.
Estava entrando em parafuso, estava tão confuso que já não sabia de onde partir e para onde ir nos seus pensamentos. Pensava em desistir de acreditar nas coisas e nas pessoas. Na sua concepção, sua crença nas coisas e no próximo eram as reais culpadas pela sua tristeza. Ele acreditava em tudo, imaginando que sem esse credo, estaria à beira da solidão. Mas, olhando bem, sua solidão estava lá, mesmo crendo.
Tentou por mil vezes sair, conversar com pessoas, tentando aparentar ser feliz, que não era abatido por nada e por ninguém. Mas isso o fazia cada vez mais triste, pois não conseguia nem sequer ser ele mesmo.
Por anos ele teve medo deste momento, a hora em que olharia para os lados e conseguiria concluir que nada mais o restava. Lutou por muito tempo imaginar que havia solução para as coisas, que tudo melhoraria. Mas essa imaginação e ilusão só o fizeram cegar. Cegar para a vida, cegar que as pessoas nem sempre estão com você para te fazer feliz, mas sim para trazer a felicidade escrota delas, que é a de pisar nos outros. Claro que isso não é a atitude dos todos. Os que não têm esse pensamento são aqueles que são chamados de babacas, por não trair e mentir.
Agora aquele garoto, cheio de sonhos de criança entendeu que algumas de suas decepções vêm lá da infância, onde imaginava que o mundo não fedia e que as pessoas tinham um pingo de humanidade. Sim, para algumas pessoas, é difícil ser humana.
Ele sabe, porém, que esta decisão de viver só com o seu eu, não procurando mais ombros para chorar, abraços apertados e toques em suas mão, pode acentuar sua dor. Mas, sem saber o que fazer, procurou a forma mais simples: MATAR A ÁRVORE QUE SE CHAMA SENTIMENTOS, A ARRANCANDO DO CHÃO E TIRANDO SUAS RAIZES.