sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Calculadoras, Caminhões e Mendigos Ladrões de Banquinhos


Mais um final de tarde na Cidade Cinza. Vago pela mesma rua de sempre, fugindo do vento que não me deixa acender meu cigarro. Passo no mesmo boteco e pego minha cerveja. Desta vez nem quis ouvir os pedidos do dono do bar para que eu apagasse o cigarro. Peguei a bebida e atirei várias moedas sobre o caixa, sem nem esperar que o patife conferisse se o dinheiro estava correto ou se eu teria troco. Voltei para rua e vi que meu velho banco estava ocupado por um mendigo. Achei melhor deixar o pobre desgraçado lá e fui à busca de outra praça. Encontrei uma perto e ali me estabeleci.  Aquilo foi um alívio para minha já castigada coluna, por mais que eu nem tenha bem passado dos 20 anos.
                Por mais cinzento que estivesse o céu, foi possível enxergar o pôr do sol. Fiquei ali sentado, eu, meu cigarro, minha cerveja (que já estava quente) e meu velho caderno. Observando os carros, as pessoas e aquelas imundas pombas, pensei sobre o caminhar das coisas na vida. Calculei o preço de viver, subtraindo todo o revés que ela traz, somando todas as “dádivas” que surgem do nada (mais obra da desatenção do azar do que de uma possível sorte). Fazia e refazia as contas, sempre buscando um resultado positivo, por mais que a calculadora não compreendesse que poderia ser o momento de me ceder um valor acima de zero. Depois de vigésima segunda tentativa, chutei a tal calculadora para rua e um caminhão só terminou o serviço, a despedaçando da mesma forma que ela mesma faz com as esperanças de tranquilidade da minha cabeça.
                Peguei a garrafa de cerveja, já vazia e quebrei-a no banco, deixando ali uns míseros cacos, já que a coragem de fazer qualquer outro ato de rebeldia já se perderá desde aquele fatídico final de semana de agosto. Voltei minhas mãos para o bolso da calça, peguei o último cigarro e voltei para casa, com mais dúvidas, questionamentos, choramingo e tristeza do que a maldita hora que inventei de sair para comprar álcool e tomar um ar.

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